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Ulrich e Hammett relembram os 30 anos de Master of Puppets

   02 de Março de 2016     tags: master of puppets, flemming rasmussen, ulrich, hammett, entrevista      Comentários

Em matéria publicada pela Rolling Stone americana, Lars Ulrich e Kirk Hammett refletem sobre Cliff Burton e o ano que os mudou para sempre. Confira a tradução na íntegra abaixo.



"Quando ouço o Master of Puppets hoje, eu simplesmente me sento lá e penso, 'O que? Como você faz isso?'", disse a Rolling Stone com uma risada. "É música bem corajosa."

Trinta anos se passaram desde que o baterista e seus colegas do Metallica lançaram sua obra-prima espetacular, e ela ainda soa tão poderosa quanto destemida. Master of Puppets originalmente saiu em 3 de Março de 1986, e ele continua como um grande marco não apenas para a banda, mas para o gênero do metal. Suas oito músicas deram um olhar profundo e visceral na manipulação em todas as suas formas, mas graças a um mistura de riffs e ritmos bate-cabeça, ele nunca trocou o peso pela precipitação.

O LP saiu quando o Metallica tinha apenas cinco anos de carreira, e nessa meia década, eles já tinham sido pioneiros no thrash metal com seu disco de estreia, Kill 'Em All de 1983, e acrescentaram as melodias elegantes e intricadas a mistura no Ride the Lightning do ano seguinte. Mas são nas reviravoltas da faixa título do Master of Puppets, a vertigem e o ritmo rápido de "Disposable Heroes", e o peso de "The Thing That Should Not Be", dentre outras músicas, que a banda se reenergizou e refocou seu som. É um disco com um legado que o Metallica, cuja idade média dos membros era 23 na época, não poderia escapar hoje nem se tentasse.

Nos anos seguintes, a melancólica "Welcome Home (Sanitarium)" e a brutal "Battery" se tornaram marca registrada das setlists, enquanto a música título se tornou a música mais tocada ao vivo pelo Metallica. "Alguns anos atrás, nós fizemos uma turnê na Europa onde os fãs poderiam escolher as setlists, e, de 20 ou 30 shows, 'Master of Puppets' foi a música número um entre as mais pedidas em todos os shows", disse o baterista. "É louco."

O álbum também é irrevogavelmente associado ao baixista Cliff Burton, que co-escreveu quase metade de suas músicas e morreu em um acidente de ônibus seis meses após o lançamento do disco. Nos últimos anos, a banda começou a tocar a música instrumental de oito minutos do Master, "Orion", em respeito a Burton.

O álbum em si seria o suficiente para garantir o lugar do Metallica no panteão do metal - mesmo que eles não tivessem se juntado novamente mais tarde naquele ano, e após alguns lançamentos, gravassem o disco mega-vendido "Black Album", e se tornado uma das maiores bandas do universo. É um legado que será explorado profundamente neste ano no Back to the Front, um novo livro do autor Matt Taylor que examina o álbum Master of Puppets e a subsequente turnê Damage Inc., através de fotos inéditas e entrevistas com a banda e sua equipe. Celebrando o aniversário do álbum nesta semana, no entanto, Ulrich, o guitarrista Kirk Hammett e o co-produtor Flemming Rasmussen falou com a Rolling Stone sobre o que o Master of Puppets significa para eles três décadas depois.

"Eram tempos loucos", Ulrich relembra do verão de 1985. Naquela primavera, os membros da banda fecharam os meses de turnê de divulgação do Ride the Lightning e voltaram para casa na Bay Area de São Francisco. Hammett foi acampar e pescar, segundo uma entrevista de 1986 com Ulrich, enquanto Hetfield e Ulrich viajaram pelo país, seguindo o Deep Purple. Quando eles sossegaram e prontos para compor, o vocalista e baterista, que dividiam uma casa em El Cerrito, começaram a escrever o novo material, usando fitas com as ideias de Burton e Hammett, na garagem. Eles todos se juntariam e ensaiariam e eventualmente se gravariam com os outros membros em um gravador portátil.

"Nós éramos bem jovens, bem inocentes", disse o baterista. "Quando eu vejo fotos nossas daquela época, havia uma pureza. Nós éramos todos fãs de música. Nós tínhamos todo tipo de pôster na parede: Iron Maiden, Michael Schenker, UFO, Ritchie Blackmore. Tudo tinha a ver com música. Nós estávamos ouvindo Deep Purple, AC/DC, Motörhead e o resto disso. Nós estávamos vivendo e respirando música 24h por dia, 7 dias por semana, sem outros motivos."

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O verão de 85 ainda parece fresco para Ulrich, e uma memória em particular se destaca. "Nos sentamos e assistimos ao Live Aid", disse ele. "Nós gravamos o concerto, nos sentamos lá e assistimos o Black Sabbath tocar as 9 da manhã ou seja lá o horário. Havia o Status Quo e Led Zeppelin. Eram tempos loucos."

A primeira música que o Metallica escreveu para o LP foi "Battery", seguida de "Disposable Heroes". Um demo cru que o grupo gravou naquele verão, supostamente no dia seguinte ao Live Aid, contem versões instrumental e com voz de "Battery", "Disposable Heroes" e um combo de "Welcome Home (Sanitarium)" e "Orion", conhecida na época como "Only Thing", além de uma instrumental "Master of Puppets". As únicas músicas que não estavam completas na época que eles foram ao estúdio eram "The Thing That Should Not Be" e "Orion". Originalmente, eles esperavam que o vocalista do Rush, Geddy Lee, produzisse o LP, mas ele não estava disponível por limitação de tempo. Então eles decidiram trabalhar de novo com Rasmussen, que já havia produzido o LP Ride the Lightning da banda.


"O Metallica fez demos bem elaboradas, bem boas", relembra Rasmussen. "Tudo estava sempre arranjado e pronto para tocar."

"Há uma faísca ou espontaneidade ou impulso que acontece quando você está com seus vinte anos", disse Ulrich. "Nós escrevemos o Master of Puppets em provavelmente oito semanas daquele verão. Atualmente, me leva oito semanas só para dirigir até o estúdio. É como, 'o que diabos nós fizemos no verão de 85 onde pudemos simplesmente dar a luz aquilo, da primeira a última nota, em oito semanas?'. Death Magnetic nos tomou provavelmente 18 meses de quando começamos a escrever até quando começamos a gravar. Neste disco atual, provavelmente levou nove meses. Como diabos você escrever um disco como Master of Puppets em oito semanas?"

Um mês após o Live Aid, o Metallica voou para a Inglaterra para aquilo que seria seu maior show até o momento, um lugar no Monsters of Rock Festival em Castle Donington. "Se vocês vieram aqui para ver Lycra e a porra de maquiagem nos olhos e todas essas merdas, e as palavras "rock & roll, baby" em todas as músicas, esta não é a sua banda", Hetfield disse a plateia. "Nós viemos aqui para bater algumas cabeças". Segundo foi noticiado, 80 mil pessoas estiveram naquele dia do festival, que teve como headliner ZZ Top.

O Metallica rapidamente retornou a Califórnia onde eles tocaram um show perdido e regado a cerveja com o nome de Four Horsemen, no Ruthie's Inn, além de um show em 31 de Agosto no famoso festival Day on the Green de São Francisco. Então foram para o Sweet Silence Studios em Copenhagen para se reunirem com o produtor dinamarquês. Da próxima vez que eles tocariam em São Francisco, no ano novo de 1985, eles estreariam um novo hino da banda: "Master of Puppets".

"Nós mais ou menos queríamos refazer o Ride the Lightning, mas muito melhor", disse Rasmussen. "Eu sempre achei que o Metallica elevou o nível cada vez que eles entravam no estúdio. Eles desafiaram suas próprias habilidades técnicas todas as vezes, que é única forma que você pode melhorar."

As primeiras músicas que o Metallica gravou para o Master of Puppets nunca chegaram ao vinil ou outros meios. Sessões para o álbum começaram em 3 de Setembro de 1985, e de acordo com as notas de gravação de Rasmussen, a banda pretendia colocar alguns covers como possíveis lados B, apenas para relaxar. "Nós fizemos 'Green Hell' [do Misfits] e 'The Prince' [do Diamond Head]", disse ele, olhando para suas notas. "Nós também deveríamos fazer algo chamado 'Money' - eu não sei que música é essa 'Money' - mas nós fizemos 'Green Hell' no lugar."

"Pelo menos para mim, eu descobri na gravação desses dois covers como eu deveria tocar a bateria nas outras músicas, que é bem mais agressivo, mesmo em estúdio", disse Ulrich em 1986. "Eu acho que todos nós estamos tocando com mais agressividade. Nós estamos tão confiantes agora no estúdio."

"Money", no caso do Metallica por volta de 1985, seria a fúnebre "The Money Will Roll Right In" da banda punk de São Francisco, Fang, que a banda tocou zoando no show do Ruthie's, e que o Nirvana fez um cover famoso no Reading Festival em 1992. O Metallica gravaria posteriormente as outras duas músicas de novo com o baixista Jason Newsted - "Green Hell" combinada com outra música do Misfits, "Last Caress", para o EP Garage Days Re-Revisited de 1987, e "The Prince" se tornaria um lado B do single de "One", de 1988.

Para gravar o resto do Master of Puppets, a banda trabalhou diligentemente em Dezembro, começando as 7PM e trabalhando noite adentro, terminando entre 4 e 6 da manhã. "O hotel que eles estavam incluía um buffet de café da manhã gratuito, então eles mais ou menos voltavam na hora de comer", relembra Rasmussen.

Embora eles tenham aceitado o apelido "Alcoholica" na época, as sessões foram focadas e produtivas. "Lars e eu éramos muito rigorosos sobre como tudo soava", relembra o produtor. "Nós queríamos que fosse tudo certo. Nós sempre falávamos da vibração da música."



Algumas semanas nas sessões, em 14 de Setembro, a banda tocou um show no festival alemão Metal Hammer, onde eles testaram a música anti-guerra do Master of Puppets, "Disposable Heroes". "Aquela música tem algumas das minhas letras favoritas que James já escreveu", disse Ulrich. "Ele acertou toda a irrelevância do desperdício de um soldado ir a guerra e brincar com a vida antes de seu nascimento. Musicalmente, tem muitos dos elementos clássicos do Metallica: partes rápidas, versos de tempo médio, coisas no meio e muitas coisas interessantes e progressivas que entram e saem na parte do meio. Atualmente, é uma ótima música para tocar em shows especiais."

Algo notável na forma que o Metallica cresceu desde a gravação de Ride the Lightning é o jeito de cantar de Hetfield. Embora ele tenha cantado a primeira parte da semi-balada "Fade to Black" para o LP de 1984, o frontman - com 22 anos na época - levou a faixa mais leve do Master, "Welcome Home (Sanitarium)", que foi inspirada em parte por Um Estranho no Ninho, com uma nova confiança. "Ele era mais do tipo de vocalista que berra no Ride the Lightning", disse Rasmussen. "A melhora foi enorme. Ele ainda estava um pouco intimidado em fazer os vocais, mas nós fizemos algumas coisas que não tínhamos conseguido no Ride the Lightning."

Outro forma em que o Metallica melhorou no passado foi a complexidade de suas músicas. Como "Disposable Heroes", a abertura do álbum, "Battery" - como em "agressão" - ostentava um arranjo complexo com uma parte acústica inspirada em Ennio Morricone, uma locomotiva de riffs thrash e um solo com levada de blues. "Damage Inc.", outra música veloz, começa com acordes que se aproximam da música sacra "Komm, süßer Tod, komm selge Ruh" de Johann Sebastian Bach antes de embalarem os latidos de Hetfield, "Fuck it all and fucking no regrets". Eles experimentaram com o doom, H.P Lovercraft e Sabbath na "The Thing That Should Not Be" e criticaram os gananciosos tele-evangelistas na progressiva, imprevisível "Leper Messiah".

Então havia afronta ao vício de drogas de Hetfield, "Master of Puppets". "Eu fui a essa festa em São Francisco, onde havia um monte de estranhos se drogando, e isso me deixou mal", disse Hetfield em 1986 sobre o porquê de ter escrito. "Não é sobre nenhuma droga em particular, mas sobre pessoas sendo controladas por drogas e não o contrário". Com sua abertura balbuciante, solo melancólico e um interlúdio artístico, a épica música de oito minutos e meio se tornou a apoteose do som do Metallica.


"Minha música favorita é 'Master of Puppets'", disse Burton em uma entrevista de 1986, reimpressa no livro Metallica Unbound de K.J. Doughton. "Eu acho que á melhor música já feita do Metallica."

"Essa aí levou um tempo", relembra Rasmussen. "Havia muitas partes diferentes e melodias, mas é uma música primordial". Para ajustar o som, o produtor se lembra de perguntar a banda para afinar seus instrumentos um pouco mais baixo que o usual, para que eles conseguissem mixar as fitas rodando mais rápido, para que soasse como se tivessem afinados. "Nós tentamos algumas vezes e decidimos na melhor sensação, pois tínhamos que tocar ao vivo."

Já que ter um som ajustado era importante para o Metallica na época, eles trabalharam duro para achar os instrumentos certos para gravar. Hetfield e Hammett já tinham encontrado os amplificadores que funcionavam para eles no estúdio dinamarquês, depois que seus equipamentos foram roubados antes de gravar o Ride the Lightning, mas Ulrich ainda queria um som diferente de bateria, especificamente daquela caixa Ludwig Black Beauty. O único músico que ele conhecia que tinha uma na época era Rick Allen do Def Leppard, e ele ainda estava se recuperando de um acidente de carro que custou a ele seu braço esquerdo. "Então [Lars] ligou para seu empresário e disse, 'Ei, Rick não está usando sua caixa no momento. Você pode me enviá-la?'" relembra Rasmussen. "No dia seguinte estava lá. Eles mandaram em uma noite. Então em um de seus dias de descanso, ele foi até algumas lojas de música na Dinamarca e encontrou uma que estava na prateleira por, tipo, 10 anos, e custou o preço de 1976. Agora ele tinha, tipo, 20 delas". Por sua parte, Allen faria seu retorno ao Monsters of Rock Festival da Inglaterra naquele verão.

Naquilo que se tornaria uma sessão de três meses e meio, os membros nascidos nos EUA do Metallica começaram a sentir saudades de casa. Hammett e Burton ficaram especialmente entediados enquanto esperavam Ulrich terminar as faixas de bateria. "Nós ficaríamos acordados até 24 horas por vez e simplesmente sairíamos caminhando por Copenhagen, meio bêbados, fazendo o que desse para passar o tempo", disse Hammett. "Eu lembro de certa vez, nós achamos uma praia no mapa. Então fomos lá, mas estava tão frio e não havia nenhuma onda nem nada. Cliff e eu estávamos nessa praia estranha de Copenhagen, dizendo, 'Deus, esse lugar está nos deixando loucos!'"

A outra coisa que eles faziam para passar o tempo era jogar pôquer. "Cliff era um dos jogadores realmente interessados", disse Rasmussen. "Ele ficava louco com os curingas. Eu acho que ele realmente queria ter um royal flush, mas ele nunca conseguiu. Ele achou que se tivesse oito coringas diferentes, havia uma chance". Ele ri. Na maior parte do tempo, eles tavam jogando por "quantidades ridículas de dinheiro", completa o produtor, como o equivalente a 10 centavos.

Metallica também relaxou durante as sessões festejando com seus amigos do grupo dinamarquês Mercyful Fate. "Nós saíamos para o bar e começávamos a beber", disse Hammett. "Eu me lembro de entrar em um grande, grande jogo de dadinho. Acabou em uma grande luta entre nós e o Mercyful Fate. Foi tão hilário. Nós começamos a lutar dentro do bar e de alguma forma fomos colocados para fora. Estávamos rindo o tempo todo, apenas sendo bêbados e sem machucar ninguém. Era só uma forma de acabar com nossa energia e frustração e qualquer tipo de apreensão e inseguranças que tínhamos", continua Hammett.

Qualquer insegurança que o Metallica tinha, eles não mostraram no disco. Uma das peças de música mais fortes no Master of Puppets é a instrumental "Orion", que abre com um som cru de baixo e cresce em uma jam com solos que alternam entre o sombrio e o cheio de esperança, antes de mudar para uma linha de guitarra mais militar. "Cliff veio com estas partes de melodia realmente boas", disse Rasmussen. "As melodias são tão fortes que você não precisa de vocais lá."

"Para mim, 'Orion' foi a canção de cisne de Cliff Burton", disse Hammett. "Era uma grande peça de música, e ele escreveu toda a parte do meio. Ela meio que nos deu uma visão de qual direção ele estava indo. Se ele tivesse continuado com nós, eu acho que ele teria ido ainda mais naquela direção. Nosso som seria diferente se ele ainda estivesse aqui."

"Ele tinha um tipo diferente de sentimento e abordagem do que nós", continua. "Foi muito bem vindo."

Quando as sessões terminaram, Rasmussen ajudou a embalar as fitas em um case de bateria para que Ulrich pudesse chegar em casa para um show na Area Area, no Civic Auditorium, onde eles tocaram "Master" e "Disposable Heroes" pela primeira vez nos EUA. A próxima vez que a banda faria um show, o Master of Puppets já tinha algumas semanas, e a turnê mundial seguinte mudaria a banda para sempre.

De Março a Agosto de 1986, o Metallica passou a maior parte das datas da turnê Damage Inc. abrindo para o Ozzy Osbourne. "Eles sempre foram uma banda muito boa", relembra Osbourne em 2009. "Nós fizemos uma turnê juntos, eu lembro. Eu sou meio que honrado de poder passar a tocha para a próxima geração."

A turnê seguiu bem até Julho, quando Hetfield quebrou seu braço andando de skate, levando o técnico de guitarra e membro do Metal Church, John Marshall, a tocar a guitarra base, mas o Metallica continuou implacável. Depois que a turnê do Ozzy terminou, eles tiraram um mês de folga e começaram a perna europeia da turnê que duraria um pouco mais de duas semanas. No show de 26 de Setembro em Stockholm, o braço do frontman estava curado e ele tocou a guitarra base ao vivo pela primeira vez em meses. Este também seria o último show de Cliff.

"Se são os 30 anos de Master of Puppets, este ano é o trigésimo aniversário da morte de Cliff", disse Ulrich. "É louco. Trinta anos? Caralho."

Depois do show de Stockholm, os membros do Metallica e sua equipe carregaram o ônibus da turnê para voltar a Copenhagen, desta vez para um concerto. Cerca de 6:30 da manhã, o veículo deslizou na rodovia. Hammett, que foi arremessado de sua cama, ficou com um olho roxo, e Ulrich quebrou um dedo. Burton foi jogado pela janela para fora do veículo, que caiu em cima dele, esmagando-o. Ele tinha 24 anos.

O motorista, que posteriormente foi acusado de homicídio mas não foi condenado, culpou uma camada de gelo na estrada pelo acidente. Hetfield e Hammett gritaram com ele, segundo o Metallica Unbound, e o vocalista foi até a estrada, procurar pela derrapagem enquanto esperavam pelo guindaste para erguer o ônibus. Hetfield quebrou duas janelas de hotel naquela noite, enquanto Hammett dormiu com a luz ligada pois estava trêmulo do acidente. A Guitar World reportou que o funeral do baixista aconteceu 10 dias depois na Bay Area, e "Orion" foi tocada durante a cerimônia.

"Cliff era tão único", disse Ulrich. "Ele era ferozmente protetor de suas próprias coisas. Um fotógrafo pode dizer coisas como 'Cliff não deveria usar essas calças largas, boca de sino', mas ele era tão protetor de quem ele era."


"Ele diria, 'bem, se eu as usar por tempo suficiente, elas voltarão a moda de novo, e eu gosto delas.'", disse Rasmussen. "Ele era um desses caras mais legais que eu já conheci, um gigante gentil. Mas quem usava boca de sino nos anos 80?"

"Ele se relevou em ser único e autônomo, e esta foi obviamente uma das maiores mensagens do Metallica", disse Ulrich. "Não havia ninguém como aquele cara."

O baterista tem pensado muito sobre Burton ultimamente, enquanto trabalha nas reedições luxuosas do Kill 'Em All e Ride the Lightning, junto do livro Back to the Front, passando por antigas fotos. "Eu disse para minha esposa noutro dia, quando estávamos passando pelas fotos antigas, 'ele era um cara bem boa pinta, na luz certa'", disse Ulrich com uma risada. "Nós olhamos naqueles anos, e éramos todos estranhos e marginalizados, e eu não sei se 'boa pinta' era algo ligado ao Metallica, mas há algumas fotos em que ele está um cara bem bonito. E ele tinha um imã, uma personalidade charmosa quando ele queria."

Logo após a morte de Burton, o Metallica decidiu continuar e começou uma busca por um novo baixista. Eles fizeram a audição de dezenas de possíveis baixistas, mas a posição no fim foi para o músico de Phoenix de 23 anos chamado Jason Newsted, que havia tocado antes com o Flotsam and Jetsam.

Na primeira semana de Novembro de 1986, o Master of Puppets se tornou o primeiro disco a ganhar disco de ouro, e desde então vendeu mais de 6 milhões de cópias nos EUA apenas. Naquela mesma semana, o Metallica retornou a turnê Damage Inc. em 8 de Novembro, o primeiro show oficial de Jason. "Cliff tinha todo esse jeito artístico, onde o Jason era muito técnico, ele tocava com perfeição", disse Rasmussen. "Cliff era mais musical."



Newsted continuou com o grupo até 2001, e durante sua passagem, a banda incorporou riffs não utilizados de Burton na "To Live Is To Die", do ...And Justice For All de 1988. Em 2003, o ex-baixista do Suicidal Tendencies e Ozzy Osbourne, Robert Trujillo, entrou. Mas não importa quem está na banda, Ulrich ainda valoriza o tempo que passou com Burton.

"Eu penso muito nele", disse o baterista. "Foi algo bem único que estava rolando para gente nesses três discos em termos de som daquela formação, e deus abençoe o Jason Newsted e deus abençoe o Robert Trujillo por suas individualidades e o que eles trouxeram para o Metallica desde sua morte, mas o Cliff era um personagem próprio. Isso não mudou nada desde então. Isto só se torna cada vez mais aparente."

Cerca de uma década atrás, o Metallica começou a tomar ações daquilo que criaram no Master of Puppets. Quando o Metallica começou a escrever músicas para o seu último álbum, Death Magnetic de 2008, o produtor Rick Rubin pediu a eles para pensar nos discos que eles estavam tocando enquanto faziam o Master of Puppets. "Você pode ser inspirado e influenciado por algo sem tentar recriá-lo", disse ele, segundo Ulrich. ("O objetivo principal de nosso trabalho foi fazê-los voltarem a ser o Metallica, se sentindo bem em ser uma banda de heavy metal", o produtor disse a Rolling Stone mês passado). Claramente inspirados, o grupo decidiu tocar o Master of Puppets na íntegra ao vivo na turnê europeia de 2006. Isto se tornou um momento decisivo para a banda.

"Foi muito divertido", disse Ulrich. "Nós estávamos um pouco desconfiados da coisa de nostalgia, mas assim que fizemos, foi bem legal. Foi a primeira vez que nos permitimos olhar pelo retrovisor e sentir bem sobre o que fizemos em nosso passado. Nós sempre tivemos um medo da repetição e quase negamos nosso passado. Mas nos sentimos bem."

O que Hammett descobriu é que o legado de Master of Puppets continuou a crescer de maneiras únicas. "O que me surpreende mais é quando eu ouço a rádio e algo do álbum vem e eu fico atônito de quão atual e moderno ele ainda soa no meio de todas as outras músicas sendo tocadas antes e depois", disse ele. "Eu sou grato por isso. Isso não acontece sempre."

Rasmussen, que trabalhou pela última vez com o Metallica como co-produtor do disco ...And Justice For All de 1988, tem tido um tempo mais difícil em ouvir como o Master of Puppets passou pelo tempo - literalmente. "Eu acho que não tenho nem o CD do Master of Puppets", disse ele. "Meus filhos continuam roubando-o. É uma droga, mas me sinto bem que eles queiram ouvi-lo."

Ulrich está simplesmente ansioso para o lançamento do Back to the Front, a sair neste outono [americano, primavera brasileira]. "É do caralho", disse ele. "O autor, Matt Taylor, fez um livro sobre o filme Tubarão, e isto é como aquilo em esteroides."

Se algo, ele é grato pela experiência de trabalhar no livro e outros projetos de arquivo do Metallica, então ele tem uma desculpa para olhar novamente fotos da época e pensar como o Metallica se tornou o que é hoje. "Nós éramos só crianças", disse ele. "Nós éramos parte de uma cena musical, um movimento. Na época, nós não estávamos cientes das possibilidades. Eu sempre achei que músicos de Nova Iorque e Los Angeles tinham essa coisa de querer entrar em bandas para se tornarem 'rock stars' e comprar grandes mansões em Beverly Hills e conseguir mulheres". Ele ri. "Eu não me lembro de nenhuma dessas merdas. Nós estávamos só tocando música e bebendo cervejas".


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